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Em 2003 Priscilla Novaes Leone, também conhecida como Pitty, estourou no mundo do rock nacional com o CD "Admirável Chip Novo", que apresentou ao público sucessos como "Máscara", "Teto de Vidro" e "Equalize". As próximas produções da baiana foram "Anacrônico", de 2005, "Chiaroscuro", de 2009, e além de dois discos ao vivo. Este ano, Pitty chega ao seu sexto álbum com o lançamento de "Sete Vidas". Um disco que fala sobre transformação e mudanças chegou à carreira da cantora em um momento de retorno às suas origens. Desde o lançamento de "Chiaroscuro", em 2009, Pitty não lançava novas músicas com sua banda de rock. No período, o Agridoce entrou em cena. Junto ao guitarrista Martin, a roqueira desenvolveu um projeto um pouco diferente do que seus fãs estavam acostumados, com músicas no estilo folk. Ao Bahia Notícias, Pitty contou como foi o processo de composição das novas músicas, sua relação com assuntos que ainda a afetam bastante e sobre sua visão do atual rock baiano.

Cantora baiana aborda temas como transformação, ansiedade e mudanças em seu novo álbum

BN - Como foi o processo de composição das músicas e por que passou tanto tempo sem compor?

Pitty - Porque estava ocupada com outras coisas, em turnê com o Agridoce, escrevendo, gravando com outras pessoas. O processo de composição foi rápido e intenso, quando veio o chamado interno de gravar um novo disco botei a mão na massa e comecei a agrupar canções e ideias. Quando me juntei com os meninos, no estúdio, foi fácil e prazeroso.

BN - Quais as influências musicais que permanecem no seu trabalho e quais as novas?

P - São tantas coisas misturadas que fica tudo subjetivo e eu não sei te apontar coisas evidentes e separadas. É uma mistura louca de influências. Na hora de fazer, a busca é por identidade. Por mais que existam coisas que inspirem, a boa mesmo é fazer o seu.

BN - Quais são os temas do novo disco?

P - Transformação, ansiedade, mudanças, resiliência, usar as experiências de forma construtiva.

O álbum "SETEVIDAS" é o sexto da carreira de Pitty

BN - Como a morte de Peu Sousa, seu amigo e guitarrista, ainda lhe afeta?

P - É algo que volta e meia eu penso, mas fica a lembrança boa de como ele foi importante na minha vida e do grande músico que ele foi.

BN - Como você encara a morte? Afinal, "Sete Vidas" fala sobre mortes e renascimentos, certo?

P - Sim. Hoje, muito melhor. Depois de ter passado por tudo, o pensamento é "o que se faz com o que se vive"? Existem vários jeitos de lidar: pode-se tornar amargo, rancoroso; ou se pode usar tudo como trampolim e encarar o ciclo. Prefiro que seja assim.

BN - A atual Pitty renasceu de algum impacto muito forte?

P - De vários. "Um maremoto atrás do outro", como disse a canção. Mas, quando a gente passa por isso, sobra a cicatriz e a fortaleza.

BN - Você foi um dos poucos casos de sucesso (comercial) do rock dos anos 2000. Há algum peso ou obrigação maior com isso? Já se percebe como uma influência para outros grupos?

P - Não há obrigação ou peso. Há vontade de se expressar e continuar fazendo discos nos quais eu possa colocar alma; e essa é a força motriz desde o início.

BN - Você acompanha a cena do rock baiano? Acha menos ativo que o seu período aqui ou é algo generalizado pelo país? Teria alguma relação com a existência de espaços físicos como o extinto Café Calypso?

P - Acompanho pelos amigos e volta e meia vejo alguém lançando disco, movimentando a cena. Isso nunca termina. Às vezes, a gente se percebe mais ou menos dependendo das estruturas ao redor, mas sempre vai ter um moleque com guitarra na mão. Acho que a falta de lugares específicos pra tocar aí é algo que atrapalha, sem dúvida, mas percebo que a galera sempre dá um jeito.

BN - Há algum tempo, você não faz shows em Salvador. A turnê "SETEVIDAS" vem para a capital baiana, certo?

P - Sim! Soube essa semana e fiquei muito feliz: a gente vai tocar no Rock Concha, no dia 24 de agosto. Espero ansiosamente por este show.

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O jovem cineasta Thiago Gomes, nascido em Feira de Santana, é um dos novos nomes de destaque do audiovisual baiano. Tem em seu currículo trabalhos como assistente de direção do cultuado diretor local Edgard Navarro no longa-metragem “O Homem Que Não Dormia” e assistente de Joel Zito Araújo e Lázaro Ramos, no Programa "Espelho" exibido no Canal Brasil, nas temporadas de 2013 e 2014. Formado em cinema pela FTC, pós-graduado em roteiros e com passagem pelo curso de Direção Teatral da Ufba, Thiago está em pleno fervor criativo, com pequenos, médios e grandes projetos.

Este ano, ele estreou no campo de longa-metragem com “Tudo Que Move”, um trabalho produzido pela Lata Filmes (RJ) e exibido em meados de julho no Canal Brasil, que também assina a coprodução do projeto. O filme, que tem como ponto de partida a vida do autor e o ciclo que se fecha aos 30 anos, conta com depoimentos de personalidades com o dobro da sua idade, como o teatrólogo Amir Haddad, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, escritora Nélida Piñon, o cineasta Edgard Navarro, a cantora Beth Carvalho, e dos atores Zezé Motta, Elke Maravilha, Stênio Garcia e Hugo Carvana. O filme pode ainda ser visto nesta terça (22), através do serviço Now, da Net.

Thiago Gomes, jovem cineasta baiano estreante em longas com “Tudo que Move”

Em 2013, o cineasta lançou o curta-metragem “Braseiro”, inspirado na obra teatral de Marcos Barbosa. O filme, que levou quatro anos para ser concluído e contou com a colaboração do diretor Edgard Navarro, conta a história de uma família nordestina e representa tantas outras que vivem onde as leis são relativas para os mais fortes, e a justiça é feita com as próprias mãos. Para o cinema, a cidade escolhida como plano de fundo dessa história sertaneja foi Milagres, no interior da Bahia, que já havia sido cenário para filmes de grandes nomes como Glauber Rocha e Walter Salles. “Braseiro” já levou nove prêmios, entre eles o de Melhor curta pelo juri da Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV) no Panorama Internacional Coisa de Cinema em 2013; Melhor Roteiro no Festival internacional World Auteur Shorts Film Festival 2013 e de Melhor Filme no IV Festival de Cinema Baiano (Feciba). O próximo desafio para a produção é o Festival Sergipe de Audiovisual (Sercine), que acontece até 25 de julho em Aracaju.

Seu próximo projeto que acaba de finalizar é o curta “Cassiano”, um documentário autoral para TV, mais uma parceria com Lata Filmes (RJ) e o Canal Brasil. O filme protagonizado pelo ator Flávio Bauraqui será lançado em festivais ainda este ano. Thiago ainda está envolvido atualmente em outros três projetos de longa-metragem, cada um em uma fase diferente. Para falar sobre o audiovisual baiano e do processo de produção dos seus projetos, o cineasta concedeu entrevista ao Bahia Notícias.

BN: Sobre “Tudo Que Move”, como você transformou um projeto autoral em uma coprodução com um canal de TV?
Thiago Gomes: O projeto surgiu no final de 2013, como uma ideia minha e de Tânia Rocha, sócia da Lata Filmes, produtora carioca que acolheu como projeto a ideia de fazer um filme sobre esse cara (que sou eu), que ao acabar de fazer trinta anos vai conversar com homens e mulheres com o dobro ou mais idade que ele, sobre as nossas mudanças na vida, numa espécie de jornada. Este foi um projeto feito em coprodução com o Canal Brasil, uma exibidora com perfil de projetos mais autorais, com mais liberdade artística para os realizadores. Cada projeto tem suas característica, perfil de público, linguagem, então é preciso saber identificar quais os melhores caminhos de realização e exibição. O legal desse projeto é que é um documentário autoral, mas feito pra televisão.

Stênio Garcia é uma das personalidades que participam de "Tudo Que Move"

BN: Como foi esse contato e a parceria com o canal Brasil ?
TG: Eu e Tânia Rocha escrevemos um projeto do filme e apresentamos ao Canal Brasil, que gostou da ideia e virou coprodutor do filme.

BN: Porque usou essa estratégia de exibir primeiro na TV e não nos circuitos de festivais, foi uma contrapartida?
TG: Na verdade, a exibição na TV, em julho, já foi programada durante o acordo de coprodução. Foram somente duas exibições neste primeiro momento. A quantidade de mensagens que recebemos de pessoas querendo rever, ou que não assistiram e queriam ter acesso ao filme, o chamado boca-a-boca, nos ajuda a saber como ele sensibiliza as pessoas, o que nos mobiliza a trabalhar para que o filme tenha a melhor carreira possível e possa ser visto por mais pessoas. É um filme com um ponto de partida bem pessoal, mas que acaba falando pra muitos, tocando as pessoas. Foi muito boa a repercussão dessas exibições pelo Canal Brasil, serviu quase como uma exibição teste.

BN: Você pretende inscrever o filme em festivais?
TG: Sim, já estamos inscrevendo. Não dá pra falar em quais festivais, porque as seleções não foram divulgadas, mas alguns deles são específicos para documentários, no Brasil e no exterior. Estamos aguardando. Hoje estamos com ele na busca do circuito de festivais e, claro, da distribuição.

BN: Quando e onde ele será exibido novamente?
TG: Ele será exibido através do serviço NOW, da Net, até esta terça (22 de julho). Além disso, ainda não temos novas exibições marcadas, torcemos para que seja em breve!

Confira o trailer de "Tudo Que Move":

BN: Agora falando de “Braseiro”, de quem foi a ideia e porque gravar essa adaptação do texto teatral de Marcos Barbosa?
TG: Em 2005, eu assisti a uma montagem da peça, dirigida por Felipe Assis. Imediatamente quis fazer esse filme, na época eu estava concluindo a graduação em cinema e fazendo uma pós-graduação em roteiros e, por coincidência, Marcos Barbosa (confira o texto teatral) foi meu professor na pós e depois também na faculdade de Direção Teatral, o projeto foi sendo formatado ao longo de alguns anos.

BN: O enredo da história criada por Barbosa se passa em uma cidade qualquer do sertão nordestino, porque a escolha de Milagres para rodar o filme?
TG: A peça é bem aristotélica, acontece toda dentro da casa, com apenas uma pequena introdução em off, mas no filme eu optei por uma estrutura diferente, realizei cenas externas que no original eram só narradas e temos outras que foram criadas pro filme e por isso eu precisava de um ambiente que tivesse a casa em ruínas, da qual o texto falava e que tinha uma força tremenda, mas um local que também tivesse um cenário externo igualmente forte. Durante as pesquisas, fomos em muitas cidades do interior, eu e Susan Kalik, a produtora executiva do filme, e não sentíamos que era aquela até que chegamos a Milagres, foi perfeito, e por essas felizes coincidências, a cidade tinha uma relação estreita com o cinema, tendo sido cenário para filmes de Glauber, Ruy Guerra, Nelson Pereira e Walter Salles.

A cidade de Milagres, no interior da Bahia, foi escolhida para as filmagens do filme

BN: Você convidou a jovem diretora de teatro Fernanda Julia para participar do projeto, foi importante esse apoio para adaptar o texto teatral para o cinema? Como foi a participação dela?
TG: Na verdade, a adaptação é minha com colaboração de Susan Kalik e Edgard Navarro. Fernanda Júlia foi a assistente de direção ligada ao elenco, o projeto era bem segmentado, tinha ainda o Paulo Fernandes e o Valter Bruno que faziam a ponte com a produção e a técnica.

BN: Quanto tempo e qual orçamento foi necessário para concluir o filme?
TG: O filme foi contemplado no edital de produção de curta-metragens do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb) com R$ 50 mil. Além destes, mais R$ 10 mil de investimento próprio e mais R$ 10 mil de investimento feito pela coprodutora do filme para a finalização, mas te garanto que esse valor é muito aquém do que realmente custou esse filme. A nossa arte ainda é tirar leite de pedra, fazer um virar cinco. Foram trinta e cinco pessoas alojadas por 10 dias em uma escola pública, a equipe total era de umas 60 pessoas, enfim, dá pra imaginar. Preparamos tudo na cidade em cinco dias e rodamos em cinco dias. Entre inscrição no edital, em 2009, e lançamento, em 2013, foram quatro anos, além de ser complexo em sua produção, nós primamos muito pela finalização (cor, som, mixagem), o que demandou mais tempo.

Cena do filme "Braseiro", que aborda as relações de poder no nordeste do país

BN: Como foi feita a escolha do elenco?
TG: Neyde Moura e Rui Manthur fazem os mesmos papéis que fizeram no teatro, nunca pensei em outros atores, adoro o que eles fazem. Sérgio Telles fazia o garoto, era um homem fazendo um menino, isso funcionava muito bem no teatro, mas no cinema ele virou o Zé seco, o antagonista, personagem que existe, mas que não aparece na peça, só é citado. Evelyn Buchegger eu conheci durante um trabalho e a convidei, já Ícaro Vilanova é um garoto incrivelmente talentoso, filho do ator Carlos Betão. Me falaram dele, fui conferir e não teve outra. E tem ainda outros atores como Mariana Damásio, Bruno de Sousa e Gil Teixeira, que escrevi pra eles as cenas, e figurações especiais de Francisco Xavier (ator/produtor), Luiz Guimarães (ator/iluminador) e Leonardo Brito (cenotécnico), que são artistas e técnicos parceiros na Kalik Produções e deram vida aos jagunços do filme.

BN: Você se cercou de uma equipe de jovens talentos pra fazer essa produção. Como você escolhe o pessoal com quem trabalha?
TG: As escolhas foram feitas na tentativa sempre de juntar afetividade, competência e profissionalismo. Quando você consegue juntar tudo isso numa equipe é lindo e foi muito bom porque consegui trabalhar com amigos e amigos dos amigos.

Amigos do diretor fizeram a figuração no curta-metragem

BN: O filme foi exibido para o público baiano no fim de 2013, como funciona a divulgação?
TG: A primeira exibição, em Salvador, foi no Panorama Internacional Coisa de Cinema do ano passado e não podia ser melhor, a exibição foi linda. Foi a primeira vez que a equipe assistiu. Eu tinha receio, ele já tinha ganhado uns prêmios, mas eu ainda não tinha conversado muito sobre o filme, ainda não tinha ouvido as pessoas falarem sobre ele, ainda vinham timidamente falar comigo, era uma coisa só dos mais próximos, então, a recepção ainda era uma incógnita até ali, era a hora de mostrar pra todo mundo, aos amigos e à classe. E foi bacana, pois tanto no Panorama quanto no Feciba os prêmios foram especiais pra mim por isso. Um foi o Prêmio de Melhor Curta Baiano do Júri ABCV e o outro de Melhor Filme do Júri Técnico, e ambos traduzem um reconhecimento da classe cinematográfica, que respeito por demais.

BN: Como você vê a atual produção baiana de cinema?
TG: Acho que a Bahia tem essa característica da pluralidade, seja na música, na dança, no teatro ou nas artes plásticas, e no cinema não pode ser diferente. Temos gerações se encontrando, estilos de filmar diferentes, diretores mais autorais ou menos autorais, ambos fazendo. Muita gente boa pensando e fazendo, tem mais liberdade, e mais chance, eu acho. Tudo isso e mais um pouco torna a Bahia um caldeirão efervescente, mas a bem da verdade é que ainda produzimos pouco na tradição do longa, conseguimos menos ainda distribuir de maneira mais competitiva e temos consciência desse gargalo. Os realizadores estão mais preparados e os que estão conseguindo ultrapassar as barreiras têm tido resultados positivos, mas ainda são poucos. Existem projetos maravilhosos que eu tenho conhecimento e que demorarão muito tempo para serem feitos, ou nunca serão, pois a nossa roda de realização de longas gira lentamente e pérolas vão se perdendo no caminho, talvez isso tenha que mudar pra esse caldeirão transbordar. Esse é um sentimento que tenho.

Veja o trailer do filme:

BN: O que falta para que mais filmes de qualidade sejam produzidos e difundidos na Bahia?
TG: A Bahia produz filmes de muita qualidade e não é de hoje, o que falta para produzirmos mais e difundirmos mais é dinheiro, não é outra coisa. O que penso é que precisamos de mais investimentos para que façamos mais filmes, dessa maneira o mercado fica seguro e constante. Outro ponto é que precisamos entrar no mercado televisivo, canais fechados, somos muito tímidos ainda nesse setor e esse mercado nos parecem distantes.

BN: Você tem novos projetos? Quais são?
TG: Esse ano lanço nos festivais o curta-metragem Cassiano, com o Flávio Bauraqui, e estou trabalhando em outros três projetos de longa-metragem, cada um numa fase diferente, um deles inclusive com o próprio Marcos Barbosa, um roteiro dele e de Claudia Barral, mas também não posso falar muito sobre eles, senão pode dar “zica”. E tenho tantos outros, tenho muitos esperando a hora certa, afinal, cinema é sonho também.

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Vem da fria Vitória da Conquista um dos lançamentos mais quentes da música baiana em 2014, um biscoito fino ainda pouco conhecido e degustado pelo público, mas que começa a ganhar seus fãs pela internet. É o folk de Diego Oliveira, 28 anos, que em seu projeto assume a alcunha de Benjamin. Há pouco mais de um mês, Diego, melhor, Benjamin, lançou seu primeiro álbum, ‘Last’, com dez composições próprias em inglês que conseguem quebrar em sua audição até mesmo barreiras linguísticas por suas belas melodias. Atualmente residindo em São Caetano do Sul, cidade do ABC paulista, para melhor divulgar sua obra, este músico conquistense conversou com o Bahia Notícias sobre sua formação musical, com influências distintas que vão dos ‘sertanejos’ Elomar e Almir Sater, o pop/rock de Ryan Adams e até mesmo o heavy metal, a importância da internet na divulgação da sua música, além de sua vida em Conquista antes de partir para viver em São Paulo, entre outros assuntos. Leia a entrevista completa.

O conquistense Diego Oliveira, 28, usa a alcunha Benjamin em seu projeto folk, lançou em 2014 seu 1° disco, o Last

Bahia Notícias: Vamos primeiro a pergunta mais óbvia: por que Diego Oliveira é Benjamin em seu projeto folk? E quem é Diego Oliveira?

Benjamin: A distinção entre os nomes fica apenas na escrita mesmo, na titulação, na verdade Benjamin é um retrato e reflexo quase integral do que eu sou como pessoa, o Diego, músico independente, headbanger, com um início de história bem parecido com a maioria dos meninos que fazem música por aí. Eu nasci em Conquista e fui criado por lá. Venho de um lar expressivamente feminino, onde minha mãe era a pedra de tudo, e minha irmã era a pessoa mais especial pra se ter por perto, duas guerreiras. Quando ia pra casa de minha 'vó, minha outra heroína, eu sempre tocava o violão do meu avô que ficava pela casa. Não demorou pra começar uns acordes, lá pelos onze (agora estou com 28 anos), guiado por meu pai, músico maravilhoso, de ouvido absoluto, que provavelmente nunca fez um show em sua vida, e por meu tio, que amava música clássica, e quem me apresentou (o violonista) Dilermando Reis, indiscutivelmente minha primeira influência na coisa de musica.

BN: Li que em seu trabalho como músico e produtor, você já fez trabalhos com artistas renomados a exemplo de Paulinho Pedra Azul, Elomar Figueira Melo, Wander Wildner e Pepeu Gomes. Queria que comentasse como foi sua participação com cada um desses artistas.
Benjamin: Eu tive a felicidade de tocar com alguns artistas muito bons, esses que você citou foram alguns deles, onde em sua maioria eu acompanhei como músico, foi o caso do Pepeu, que acompanhei como guitarrista, em alguns shows em Salvador, numa banda de apoio, e do Wander com quem toquei bateria em um show apenas. No caso do Paulinho e do Elomar, eu participei de forma bem pontual, em estúdio, em algumas produções feitas em parceria com outro artista talentosíssimo de Vitória da Conquista, o Janio Arapiranga, de quem produzi um dos discos mais bonitos que podia, o "Nosso Tempo", terceiro disco do Janio.

BN: Falando em Elomar, vocês dois são de Conquista. Ele, um reconhecido cantor da ‘música sertaneja’ (melhor falar ‘música sobre o sertanejo’). Você um cantor de ‘folk’. Sua aproximação com o ‘folk’ vem mais do estilo ou também está presente nas letras? De alguma forma, você também é influenciado pelo trabalho do Elomar? 

Benjamin: Adorei sua fala ‘música sobre o sertanejo’! Então, eu acredito que a música de Elomar ecoe por Conquista do roçado até o Candeias, não importa em que medida, mas a música dele vai sim ressoar em qualquer conquistense, minha 'vó era da Gameleira como ele, e me contou tanta história dessa gente que quando ouvi a música de Elomar a primeira vez, eu ouvia a voz dela junto, e trago isso comigo até hoje. Ele traz o sertão pra sua música com muita unha, com muita experiência, mesmo quando é fantasioso, eu sou mais um admirador disso tudo, vivi pouco pra achar que posso cantar a respeito, nesse sentido eu sou mais moderno, me permito apreciar suas referências, e trazê-las pra minha música quando convém, quando cabe, mas na maioria do tempo a semelhança que existe entre as duas abordagens é simplesmente o fato de sermos cantadores de nossa crença, seja na vida ou no que for, crença em tudo que 'tá a sua volta mesmo quando você duvida cegamente de tudo isso.

BN: Ainda sobre influências, pelo o que li em matérias sobre seu trabalho, vi referências que vão do violonista Dilermando Reis até o heavy metal, passando pelo regional Almir Sater e o rock/pop de Ryan Adams e Pink Floyd. Como cada um deles entra no “Benjamin” e em sua formação pessoal? Algum outro artista que gostaria de citar neste processo?
Benjamin: Eu não sei o que chega a ser influência musical, ou o que simplesmente me inspira, te digo com certeza que Pink Floyd e Dilermando estão cravados em meu DNA como compositor, porque é o que ouço desde moleque, é a herança da minha mãe na casa de minha 'vó. O Almir foi um artista que entrou na minha vida pra imprimir uma beleza simples, algo que dou muito valor. Acho lindo como ele veio se desvencilhando ao longo de sua carreira de costumes que compositores do mesmo estilo traziam com eles, esse sertanejo que se conhecia, gosto de como ele saiu disso, como ele "Bluegrasseou" todo o seu repertório e cobriu com aquela voz de anjo que tem, o Sater fala muito em meu coração, é um cabra que ainda quero conhecer, sentar e trocar uma idéia. Por último o Ryan Adams, esse foi um daqueles artistas que você conhece e sabe que não vai mais conseguir parar de ouvir. Eu ouço Ryan Adams, virtualmente, todos os dias dos últimos sete anos, e o admiro demais por fazer tudo o que fez na música, e ele realmente fez de tudo, de hip-hop a Heavy Metal, e tudo com extremo bom gosto, pra 'cabar de inteirar o cara é fã "die-hard" de Black Metal, não tem como não respeitar.

BN: Também em uma das suas entrevistas, você diz que “o que mais influência a composição em Benjamin não vem da música”. O que seria então?

Benjamin: Quando falo disso falo das experiências, da vida, como disse antes, Benjamin é a minha história com esse mundo, como vejo a vida se desenrolando entre os dias, as ruas, os rostos. Eu aprecio a experiência das coisas mais do que propriamente a coisa em si, e percebo isso nos outros, na energia das pessoas por ai, como elas interagem com o outro e com os lugares, os espaços, quando vejo isso me sinto inspirado, pro bem ou pro mal, e o que escrevo como Benjamin é um reator disso, dessas experiências, dessa observação.

BN: Como foi o início do projeto em Conquista? E a mudança para São Paulo, como se deu? Como a internet ajudou na divulgação de suas músicas? Que momentos você pode destacar que a internet ajudou nesse caminho?
Benjamin: Tudo começou na Internet, dou muito valor a isso, e acredito que o uso consciente da Internet a justifica com toda a sua grandeza. Eu gravei umas musicas com um gravador portátil, e sem mixagem alguma, e separei algumas pra lançar como um EP, sem reparo algum, literalmente cheio de erros, subi as músicas pra Web e divulguei entre amigos, esses foram gostando e ouvindo, e compartilhando entre eles e outros, e com um pouco de coragem eu enviei pra alguns outros lugares, foi entre essas manobras que conheci o portal Folk Music Brazil, regido pela Juliana Guinsani. A Juliana me respondeu de maneira super respeitosa e apoiadora, o que já era uma vitória pra mim, visto que o EP foi gravado em condições precárias e não tinha lá uma das melhores apresentações, mesmo assim ela em toda a sua sensibilidade abriu espaço e logo convidou pra uns shows em SP, vim por uma semana, toquei em ótimos lugares, e resolvi me mudar de vez, encarar a coisa, desde então tem sido sempre esse trabalho, que mesmo difícil sempre compensou, a mim e a ela, que assumiu de vez as rédeas de tudo, e eu não poderia estar mais feliz com o rumo que tem tomado.

BN: Seu primeiro álbum, o “Last”, foi lançado primeiro com exclusividade pela plataforma de streaming Deezer e agora também está disponível em outras plataformas. Por que essa escolha de lançar por uma plataforma de streaming e não antes de forma física ou até mesmo disponibilizar para download? Quando sai e onde o disco nas outras plataformas? 

Benjamin: O disco foi lançado pelo selo M4Music, que nesse segundo semestre está trazendo ótimos lançamentos pro mercado, é um selo recente, fruto de mais uma das manobras da Juliana, que já vem conseguindo parcerias muito expressivas, uma delas foi com o Deezer. Eles me convidaram pra fazer um lançamento exclusivo com eles, 15 dias antes do disco sair em outras lojas on-line, fizeram a oferta pra Juliana através do selo, e com isso a parceria se consolidou, foi uma experiência muito válida pra mim. Escolhemos essa estratégia de lançamento porque o Deezer é aberto, o lançamento foi mundial, e as pessoas poderiam ouvir o disco na íntegra de forma gratuita. Fisicamente o disco vai ser lançado logo, e por agora ele pode ser comprado no iTunes e Amazon, e dessa forma estamos conseguindo cobrir todo tipo de consumidor.

BN: Como estão os convites nacionais e internacionais para shows? Salvador, já esteve na cidade? Algum show na lista? Já se apresentou aqui?
Benjamin: Salvador ainda não me chamou pra tocar. Mas vai, eu tô mandando energia pra lá (risos). Tenho alguns shows marcados sim, alguns deles ainda não posso divulgar por ser em festivais. Recentemente, toquei em uma noite folk na Casa do Mancha, junto com os artistas Arthur Matos e Filipe C., e em Agosto aconteceu a segunda edição do Inverno Cultural do Folk Music Brazil, na Livraria Cultura, em SP, toquei no dia 9. Um dia antes, dia 8, toquei no MIS (Museu da Imagem e do Som), também em SP. Sei que existem outras datas pros próximos meses, mas eu nunca me lembro de todas, mas sempre apareço (risos). Fora do Brasil existe o interesse de algumas casas e produtoras, e a gente 'tá analisando o melhor momento, eu acredito que em 2015 aconteça.

BN: Por que a predominância de letras em inglês? Você compõe diretamente na língua inglesa? Pensa em fazer algo em português? Acha que isso afasta parte do público?

Benjamin: Eu escrevo em inglês, o que acontece nisso tudo é que a maioria de minhas músicas vem de poemas que escrevi, ou versos que deixei soltos em cadernos por aí, e alguns deles se acham na música, mas quando penso em música pro Benjamin, a escrita vem em inglês naturalmente, mesmo que beba na fonte daquele poema antigo que não virou nada. Sobre escrever em inglês no Brasil, acho que não afasta o público, a música desperta o interesse do ser humano pelo corpo, pelo pulsar, depois rebate n'alma, no intelecto, mas é algo muito visceral pra se dispor dessas amarras, acho que quando não gostam realmente não gostariam de jeito algum, em língua alguma, e quando gostam ouvem, mesmo quem não entendam, me pedem a letra e tudo se resolve. Essas músicas eu escrevo só, no geral, mas nesse disco eu contei com a ajuda de minha noiva em algumas músicas, ela me deu versos maravilhosos, e acompanhou muito de perto o processo de gravação de todo o disco, então a impressão dela era sempre algo que eu buscava na decisão final. Nesse disco tem também uma música inspirada num poema de Querino, poeta também de Conquista, li esse poema e deu vontade de escrever a música, saiu muito rápido e até hoje dividimos muitas conversas sobre isso.

BN: Que outros artistas de “folk” nacionais você pode indicar? Identifica-se com iniciativas de artistas como o Vanguart e a Mallu Magalhães, que começaram no folk em inglês e a cada dia se aproximam mais de influências da MPB?
Benjamin: Indico os artistas que conheço, que sei que são do corre – o Arthur Matos de Sergipe que acabou de lançar um disco lindo demais, Rafael Elfe do Rio que tem tocado bastante divulgando o seu “Perro Negro” e que deve vir esse ano ainda com novidades, o Phillip Nutt, que agora vem experimentando em outros estilos e isso deve aparecer no seu próximo disco– inclusive esses três artistas são também do selo M4Music. Na Bahia tem também outros artistas de Folk que são muito bons – o Diego Schaun, que também tem disco novo na praça, e o malungo Ian Kelmer, que vem dividindo seu trabalho entre a Irlanda e o Brasil, enfim, tem uma moçada ótima por aí. Sobre começar em Folk cantando em inglês e ir partindo pra MPB, cara, eu nem sei onde a barreira cai, não acredito que uma mudança brusca de estilo seja algo de todo mal, se isso acontecer honestamente 'tá valendo. Não sei se pra esses dois artistas que você citou foi uma coisa natural, uma manobra comercial necessária, ou mesmo uma maturação artística como podemos atribuir à Mallu, sei que se soar bem não importa o resto, no caso da Mallu Magalhães eu vejo uma beleza muito grande no que ela tem feito, mas ouvi pouco, Vanguart eu nunca ouvi muito, mas sei que tem tempo de banda, espero que sejam verdadeiros, se for 'ta tudo certo.

Capa do disco "Last"

BN: Como tem sido a vida em São Paulo, uma fácil adaptação? Você já morou fora de Conquista antes? Ainda vai a Conquista? Há reconhecimento do seu trabalho por lá?
Benjamin: Vou à Conquista menos do que gostaria, de verdade, morro de saudades, especialmente de minha família que 'tá por lá, mas a vida em SP me consumiu, positivamente. Aqui comecei uma vida novinha, e ela tem sido difícil como tem de ser, mas tenho tido presentes cada vez mais doces pra compensar. Morei fora por períodos curtos, nunca fora do Brasil, em outros estados apenas, e a experiência era tocar, nada como o que vivo hoje, então chego aqui de peito aberto, mas sou de fácil adaptação, tenho trabalhado muito e isso gera outra perspectiva. Conquista veio comigo no coração, e os amigos ficaram por lá, junto ficou sim algum reconhecimento, pelo qual sou grato até o ultimo fio de cabelo, pessoas que admiro muito me admiram também, e isso é muito bonito.

BN: O que a capa de “Last” representa?
Benjamin: A capa de Last representa o encontro, um ponto de sintonia entre formas diferentes de vida. A fotografia, do Caio Resende, (outro poeta de Conquista, irmão eterno) me dá essa sensação, os elementos dessa foto, pensando que elas estão num cruzamento de avenida, me traz muitas imagens à cabeça, como quando a gente para num semáforo e espera, um ato diário tão comum, e nada nosso, e que desperta tantas e tantas e tantas angústias no homem, por algo tão simples e bonito que é esperar, enfim… Chego a falar dessa cena num verso em “Ceilings,” música que abre o disco, onde digo "traffic lights put queens and kings on hold" (nota do editor: “semáforos colocam reis e rainhas em espera, em tradução livre”). É por aí, o disco inteiro segue essa vibe.

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